O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), por funcionarem em uma lógica de “um dólar, um voto”, beneficiam os paÃses ricos e impõem polÃticas econômicos para os paÃses pobres que prejudicam o desenvolvimento dessas nações, avaliou durante o G20 Social o economista sul-coreano Ha Joon Chang, autor do best-seller Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica.“Essas instituições [FMI e Banco Mundial] decidem suas polÃticas com base em um dólar, um voto. Os paÃses têm participação de acordo com o dinheiro que alocam nesses organismos. Ou seja, elas estão ligadas ao poder econômico. Os Estados Unidos têm 80% dos votos nessas organizações e a China apenas 6%, apesar de a economia chinesa ser dois terços da economia dos EUA. Com isso, os paÃses ricos conseguem influenciar todas as decisões. Essas instituições são direcionadas para os paÃses ricos e obedecem seus desejos”, opina o professor.
O economista sul-coreano participou dos debates do G20 Social desta sexta-feira (15) sobre a Reforma da Governança Global, que propõe mudanças de instituições como o Conselho de Segurança da ONU, FMI e Organização Mundial do Comércio (OMC). Essa é uma das prioridades do governo brasileiro para a cúpula do G20, que ocorre nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
Joon Chang também criticou as polÃticas do chamado Consenso de Washington, conjunto de medidas defendidas pelo mainstream econômico para ser aplicado em todos os paÃses. Elas incluem, entre outras, corte de gastos públicos, privatizações, desregulamentação do mercado financeiro e flexibilização de regras trabalhistas, conhecidas também como polÃticas neoliberais.
Para o especialista sul-coreano, essas polÃticas aplicadas desde os anos 1980 na maioria dos paÃses menos desenvolvidos se mostraram um fracasso. “É uma completa mentira que essas polÃticas vão ajudar os paÃses. Na década de 1970, os paÃses latino-americanos cresciam mais de 3% ao ano, na média. Depois das polÃticas neoliberais, passou a crescer, em média, 0,8% ao ano. Não entregaram crescimento. Ainda assim, elas continuam sendo impostas e os paÃses ricos continuam mandando nos empréstimos do Banco Mundial e do FMI”, destacou Joon Chang.
O livro Chutando a escala, de Joon Chang, analisa a pressão que o mundo desenvolvido exerce sobre os paÃses mais pobres para que adotem certas polÃticas e instituições que não foram usadas pelos paÃses ricos no passado para alcançar o desenvolvimento. Em outras palavras, os paÃses ricos “chutam a escada” que usaram para se desenvolver, impedindo que as demais nações sigam o mesmo caminho.
"Viemos de uma história de dominação, colonialismo e imperialismo. Por isso, partimos de pontos de partida diferentes. Uma regra econômica para todos é uma regra escrita para benefÃcios dos paÃses ricos do Norte Global", completou o sul-coreano.
Antes da cúpula dos lÃderes do G20, movimentos e entidades da sociedade civil organizados discutem no G20 Social as propostas da sociedade que serão encaminhadas, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aos lÃderes das 19 principais economias do planeta, mais a União Europeia e a União Africana.
Entre as propostas, está a reforma das instituições internacionais como FMI e Banco Mundial para que os paÃses menos desenvolvidos tenham mais poder de decisão nesses órgãos.
Analistas consultados pela Agência Brasil avaliam que o debate sobre a reforma da governança global na cúpula do G20 será limitado pela eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, uma vez que sua última gestão ignorou os fóruns internacionais.
O assessor do presidente Lula para Assuntos Internacionais, embaixador Celso Amorim, presente no debate do G20 Social desta sexta-feira, disse que a reforma da governança global é um processo em andamento e acredita que haverá algum progresso sobre o tema neste G20.
“Acredito que seja feito um diagnóstico sobre a necessidade de mudança da governança global. Agora, isso é um processo que vai ter que continuar no futuro”.
Sobre a possibilidade de Trump interromper esse processo, Amorim destacou que é preciso aguardar. “Vamos ver como as coisas evoluem. Esperamos que mesmo na busca do seu interesse, o presidente Trump também ajude”, ponderou.
Informaçoes da Agência Brasil
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