Pesquisa nos EUA abre caminho para imunizante de uso amplo, sem necessidade de personalização; estudo reacende debate sobre prevenção após a morte de Preta Gil, vítima de câncer no intestino
A recente perda da cantora Preta Gil, aos 50 anos, vítima de um câncer no intestino, trouxe à tona a urgência da prevenção e do avanço nas pesquisas contra a doença. Em meio ao luto e aos alertas de especialistas sobre o diagnóstico precoce, uma descoberta científica surge como esperança: uma vacina experimental de mRNA foi capaz de potencializar os efeitos da imunoterapia e eliminar tumores em testes com camundongos. O estudo, conduzido por cientistas da Universidade da Flórida (EUA), representa um passo promissor rumo ao desenvolvimento de uma vacina universal contra o câncer.
O diferencial da nova vacina está no fato de ela não ser direcionada a um tipo específico de tumor, mas sim de agir como um estímulo geral ao sistema imunológico — como se o organismo estivesse combatendo um vírus. Essa resposta amplificada permitiu que as células de defesa passassem a reconhecer e atacar com mais eficácia as células cancerígenas.
“A grande surpresa é que uma vacina de mRNA, mesmo sem ter como alvo um câncer específico, conseguiu gerar uma resposta imune com efeitos anticâncer bastante significativos”, explicou o oncologista pediátrico Elias Sayour, que lidera a pesquisa.
Resultados expressivos mesmo em tumores resistentes
Nos experimentos, a vacina foi combinada com medicamentos já utilizados na imunoterapia, os chamados inibidores de checkpoint imunológico — como o anti-PD-1 — que “liberam o freio” das células T, parte fundamental da resposta imunológica. A combinação foi testada em camundongos com melanoma, um tipo agressivo de câncer de pele, e demonstrou eficácia até em casos considerados resistentes ao tratamento convencional. Em alguns modelos, os tumores desapareceram por completo. Também foram observados efeitos positivos em cânceres ósseos e cerebrais.
Segundo os pesquisadores, o sucesso da estratégia está em forçar os tumores a expressarem a proteína PD-L1, tornando-os mais “visíveis” ao sistema imunológico. Essa espécie de “isca” aumentou consideravelmente a eficácia da imunoterapia combinada com a vacina.
Tecnologia inspirada nas vacinas da covid-19
A vacina segue a mesma tecnologia das vacinas de mRNA utilizadas contra a covid-19, como as da Pfizer e Moderna. Ela utiliza uma molécula de RNA mensageiro encapsulada em nanopartículas lipídicas (pequenas gotas de gordura), que atuam como veículo para levar instruções às células e induzir uma resposta imunológica.
No ano anterior, a mesma equipe já havia testado com sucesso, em humanos, uma vacina personalizada de mRNA para o tratamento de glioblastoma — um câncer cerebral raro e agressivo. Naquela ocasião, a fórmula era feita a partir das células tumorais de cada paciente. A inovação agora está em dispensar essa personalização, criando uma vacina genérica de uso mais amplo.
Caminho até os humanos
Apesar dos resultados promissores em animais, a vacina ainda está em fase experimental. O próximo passo dos pesquisadores é realizar testes clínicos em humanos para avaliar a segurança e eficácia da fórmula em larga escala.
A notícia reacende a importância do investimento em ciência e do olhar preventivo sobre o câncer. Embora os avanços na tecnologia sejam animadores, especialistas seguem reforçando a importância de exames de rotina e diagnóstico precoce — especialmente no caso de tipos como o câncer colorretal, que ceifou a vida de Preta Gil e cujas chances de cura aumentam consideravelmente quando descoberto em estágios iniciais.
Informações do G1