Apesar de ser conhecida como uma cidade de maioria católica, Salvador tem hoje muito mais terreiros do que igrejas ligadas ao catolicismo. Segundo a Federação Nacional de Culto Afro-Brasileiro (Fenacab), são cerca de 2.800 terreiros cadastrados na capital baiana, contra 589 igrejas, conforme a Arquidiocese de São Salvador.
Os números, no entanto, variam conforme a fonte. A Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA) estima pouco mais de 2 mil casas de axé. Já a Secretaria Municipal da Reparação (Semur) tem 824 terreiros cadastrados voluntariamente. Mesmo com divergências, especialistas destacam que há clara predominância das religiões de matriz africana na cidade.
De acordo com o último Censo do IBGE, Salvador possui quase 60 mil praticantes de umbanda ou candomblé. No mesmo levantamento, o catolicismo apresentou queda e menos da metade da população se declarou católica.
Distribuição pela cidade
Apesar do número expressivo, os terreiros são menos visíveis que as igrejas. Historicamente, foram empurrados para áreas periféricas devido ao racismo estrutural e à perseguição religiosa, explica Leonel Monteiro, presidente da AFA. Regiões como Cajazeiras, Castelo Branco e Fazenda Grande IV concentram casas de axé, por ainda preservarem áreas verdes e mananciais.
Tradição religiosa
A grande quantidade de terreiros também se explica pela própria estrutura das religiões de matriz africana. Cada iniciado que recebe o sacerdócio pode abrir uma nova comunidade religiosa, seja por sucessão ou por fundação própria.
Perfil
Um dos mapeamentos mais abrangentes mostrou que a maioria dos terreiros de Salvador pertence à nação Keto (iorubá), seguida pela Angola (banto). Os bairros com maior concentração incluem Plataforma, Cajazeiras, Paripe, Cosme de Farias e Liberdade. Atualmente, o Subúrbio Ferroviário e Cajazeiras seguem como principais polos.
Segundo Evilasio Bouças, do Conselho Municipal das Comunidades Negras, a nação define até a língua e a forma de culto: no Keto, de origem iorubá, os fiéis cultuam os orixás; já na Angola, de origem banto, as divindades são os Nkissis.
Informações do Conectado News