Produtores brasileiros aguardam as próximas medidas do governo federal diante da decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras. A taxação, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, causou apreensão em diversos setores — especialmente entre os mais vulneráveis.
Um dos segmentos mais atingidos foi o de pescados. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), ao menos 58 contêineres com 1.160 toneladas de produtos congelados perderam os compradores norte-americanos e devem retornar aos produtores brasileiros. Os EUA são o destino de 70% das exportações brasileiras de pescado, com destaque para a tilápia, que tem 90% de sua produção voltada para o mercado norte-americano.
“A lagosta, por exemplo, é vista como produto de luxo, mas é produzida artesanalmente por comunidades pobres. São essas pessoas que sofrem diretamente”, afirmou Jairo Gund, diretor-executivo da Abipesca.
A entidade defende que o governo brasileiro negocie o adiamento da tarifa em ao menos 90 dias, para garantir o escoamento de produtos já contratados. Também será solicitada a exclusão dos pescados da taxação, por representarem menos de 1% das importações do setor nos EUA.
Outros setores também atentos
Na citricultura, o clima ainda é de cautela. Para Antonio Carlos Simonetti, presidente da Câmara Setorial da Citricultura de São Paulo, “uma boa conversa é melhor do que uma má discussão”. O Brasil é o principal fornecedor de suco de laranja para os EUA, que compram mais de 40% das exportações do país.
Já o setor cafeeiro, representado pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), participa de articulações com representantes do governo federal, entidades de classe e parlamentares. O café está entre os principais produtos exportados pelo Brasil, sendo que apenas a variedade torrada representa 4,7% do total.
Indústria e governo se mobilizam
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) manifestou preocupação com os impactos da medida norte-americana sobre contratos e investimentos. Em nota, a entidade destacou que a taxação “põe fim à previsibilidade” e compromete cadeias produtivas compartilhadas entre os dois países, ameaçando empregos e competitividade.
Em resposta, o governo federal criou o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, que tem como objetivo ouvir representantes do setor produtivo e definir estratégias diante das novas tarifas. O comitê atua com base na Lei de Reciprocidade Econômica, que permite ao Brasil suspender concessões ou obrigações internacionais em casos de medidas unilaterais que afetem sua economia.
As reuniões com representantes da indústria e do agronegócio já estão em curso, e o governo promete agir para proteger os interesses dos produtores brasileiros frente ao impacto comercial provocado pela medida norte-americana.