Os juros do crédito consignado para trabalhadores do setor privado aumentaram significativamente em abril, passando de 44% ao ano, em março, para 59,1%. A elevação de 15,1 pontos percentuais (pp) marca um salto expressivo em comparação aos meses anteriores. Em 12 meses, o aumento acumulado é de 20,6 pp. Os dados são do Banco Central (BC).
A alta ocorre no contexto do lançamento do Programa Crédito do Trabalhador, criado pelo governo federal para facilitar o acesso e reduzir os custos do crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada (CLT). Apesar do objetivo de baratear os empréstimos, os juros subiram 3,1 pp já em março, mês de criação do programa — uma variação acima da média registrada anteriormente, que girava em torno de 1 pp.
De acordo com o BC, impulsionadas pelas contratações por meio da Carteira Digital de Trabalho, as concessões de crédito consignado no setor privado aumentaram 148,7% em abril, com crescimento de 7,4% no saldo da carteira.
Crédito para famílias e empresas também encarece
Nas novas contratações para famílias, a taxa média de juros livres atingiu 57,4% ao ano, com alta de 1,1 pp no mês e de 4,6 pp no acumulado de 12 meses. O crédito pessoal não consignado também teve destaque, com aumento de 2 pp.
Para empresas, a taxa média de juros no crédito livre chegou a 26% ao ano, subindo 2,4 pp no mês. Destacaram-se os aumentos no cheque especial para pessoa jurídica (30,8 pp) e na conta garantida (24 pp).
No total, a taxa média de juros no crédito livre — que abrange famílias e empresas — alcançou 45,3% ao ano, uma alta de 1,1 pp em relação ao mês anterior e de 4,6 pp em 12 meses.
Relação com a Selic e custo do crédito
O encarecimento do crédito acompanha o cenário da taxa básica de juros da economia, a Selic, mantida em 14,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Como principal instrumento de controle da inflação, a Selic influencia diretamente o custo dos empréstimos.
Crédito direcionado tem juros menores
No crédito direcionado, que segue regras específicas do governo para setores como habitação, agricultura e infraestrutura, os juros são mais baixos. Para pessoas físicas, a taxa média foi de 11,1% ao ano, com leve queda mensal e alta de 1,2 pp no ano. Para empresas, a taxa chegou a 15,9% ao ano, após recuo de 2,4 pp no mês e avanço de 4,6 pp em 12 meses.
A média geral do crédito direcionado ficou em 12,2% ao ano.
Concessões e endividamento das famílias
Em abril, as concessões de crédito totalizaram R$ 639,9 bilhões, com alta de 4,3% no mês — 2,9% para pessoas físicas e 6% para empresas. O estoque total de crédito no Sistema Financeiro Nacional chegou a R$ 6,597 trilhões, representando um crescimento de 0,7% em relação a março e de 11,5% em 12 meses.
O crédito ampliado ao setor não financeiro, que inclui recursos de bancos, títulos públicos e dívida externa, atingiu R$ 18,989 trilhões, com alta de 0,7% no mês e de 13,5% no acumulado de 12 meses.
A inadimplência (atrasos acima de 90 dias) segue relativamente estável: 3,5% no total, sendo 4,1% nas operações com pessoas físicas e 2,5% com empresas.
O endividamento das famílias — relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada — ficou em 48,6% em março. Sem o financiamento imobiliário, esse índice é de 30,4% em abril.
O comprometimento da renda das famílias — parcela da renda destinada ao pagamento das dívidas — foi de 27,2% em março, levemente abaixo do mês anterior, mas 1 pp maior no comparativo anual.
Informações da Agência Brasil