Pela primeira vez em anos, as autocracias ultrapassaram as democracias em número de países, de acordo com o mais recente Relatório da Democracia, elaborado pelo Instituto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo (Suécia). O estudo, que analisa dados globais sobre governança, mostra que hoje há mais regimes autoritários do que democráticos no mundo.
O conceito de autocracia adotado no relatório envolve governos em que o poder está concentrado em uma pessoa ou grupo político, com restrições severas às liberdades civis e políticas. Já a democracia é definida por eleições livres e justas, liberdade de expressão, associativa e de imprensa, além de mecanismos de controle sobre o Poder Executivo e igualdade perante a lei.
O levantamento revela que cerca de 72% da população mundial — o equivalente a 5,8 bilhões de pessoas — vivem sob regimes autocráticos, o maior índice desde 1978. Ao todo, foram analisados 179 países, com destaque para o avanço autoritário no Oriente Médio, Norte da África, Ásia do Sul e Central e África Subsaariana. As democracias, por sua vez, permanecem mais presentes na Europa Ocidental, América do Norte, partes do Leste Asiático, Pacífico e América do Sul.
Polarização e desinformação: ameaças crescentes à democracia
Entre os principais fatores que ameaçam as democracias contemporâneas, o relatório aponta a desinformação e a polarização política. Segundo os pesquisadores, regimes autoritários frequentemente manipulam informações para semear desconfiança e desestabilizar a percepção pública das instituições.
A polarização, por sua vez, favorece esse cenário ao reduzir a confiança nos processos democráticos. O estudo observa que, em contextos altamente polarizados, os cidadãos tendem a abrir mão de valores democráticos em nome de preferências partidárias ou ideológicas. Exemplos emblemáticos foram identificados no Brexit e nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016.
Em 2024, a polarização aumentou de forma significativa em nove países analisados. Nos Estados Unidos, o estudo destaca que níveis extremos de divisão política marcaram os debates eleitorais, afetando a integridade democrática do processo.
Violência política e ataques à imprensa em alta
Outro dado preocupante é o avanço da violência política e da repressão à imprensa, especialmente durante processos eleitorais. Segundo o relatório, quase um quarto das eleições realizadas no último ano foi marcado por episódios de violência.
O caso mais grave ocorreu no México, com a eleição mais sangrenta da história recente do país, contabilizando pelo menos 37 candidatos assassinados. Houve também tentativas de assassinato de lideranças políticas na Eslováquia e nos Estados Unidos.
Esses dados refletem um cenário global de fragilidade institucional, no qual os pilares da democracia enfrentam ameaças cada vez mais complexas — tanto internas quanto externas.
Informações da Agência Brasil