O Banco Central (BC) indicou que a taxa básica de juros, a Selic, deve permanecer em patamar elevado por um período prolongado. A justificativa está na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que apontou dois fatores principais: o cenário de inflação ainda resistente e as incertezas provocadas pelo aumento de tarifas comerciais dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
De acordo com o documento, o ambiente externo está mais adverso e instável, o que exige cautela na condução da política monetária. O Copom avalia que os efeitos das tarifas impostas pelos EUA são relevantes para setores específicos, mas seus impactos mais amplos ainda dependem da evolução das negociações comerciais e da percepção de risco associada.
No cenário interno, o comitê destacou que as expectativas de inflação seguem desancoradas – ou seja, afastadas do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. A meta atual é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Apesar de uma desaceleração nos preços dos alimentos, a projeção para o IPCA em 12 meses ainda está acima da meta. Segundo o Copom, os núcleos de inflação permanecem elevados há vários meses, o que reforça a necessidade de manter uma política monetária mais rígida por tempo prolongado.
Mercado interno e política fiscal
O BC também observou que a alta dos juros já está produzindo efeitos sobre a economia, especialmente no mercado de crédito. No entanto, setores como o crédito consignado privado – voltado a trabalhadores da iniciativa privada e profissionais de aplicativos – ainda apresentam impacto abaixo do esperado.
Mesmo com o esfriamento da economia, o mercado de trabalho permanece aquecido. Há aumento real de salários acima da produtividade e níveis historicamente baixos de desemprego, o que mantém o consumo elevado e pressiona a inflação.
Outro ponto de atenção citado na ata é a política fiscal. O Copom alertou para os riscos associados ao aumento dos gastos públicos, à expansão do crédito direcionado e à falta de avanço em reformas estruturais. Esses fatores podem elevar a taxa de juros neutra da economia e reduzir a eficácia da política monetária no controle da inflação.
Selic e os efeitos sobre a economia
A Selic é a principal ferramenta do BC para controlar a inflação. Ao elevá-la, o crédito fica mais caro, desestimulando o consumo e os investimentos, o que tende a desacelerar a economia. Embora esse mecanismo ajude a conter a alta de preços, também pode ter efeitos negativos, como queda na geração de empregos e na renda das famílias.
O Copom afirma que o momento atual é de pausa na elevação da taxa, a fim de observar os efeitos acumulados das medidas já adotadas e avaliar se o nível atual da Selic é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.
Informações da Agência Brasil