Promessas milagrosas divulgadas nas redes sociais para resolver problemas de libido, aumentar disposição ou manter o tônus muscular escondem sérios riscos. O uso descontrolado de hormônios como a testosterona, especialmente entre mulheres na menopausa, tem gerado alerta entre médicos. O hormônio só deve ser indicado em situações específicas e com acompanhamento de endocrinologistas ou ginecologistas.
Segundo a endocrinologista Jacy Alves, “a utilização indiscriminada da testosterona virou uma panaceia no Brasil”. Ela explica que nenhuma sociedade médica recomenda o uso do hormônio para fins estéticos, melhora de performance física ou prevenção de doenças. A única indicação reconhecida é o tratamento do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH) em mulheres na pós-menopausa.
Antes da prescrição, é necessário um diagnóstico cuidadoso, já que a queda da libido pode estar relacionada a fatores como uso de medicamentos, hipotireoidismo, problemas renais, depressão ou questões emocionais e de relacionamento. Jacy destaca ainda que, na menopausa, o hormônio que sofre queda acentuada é o estrogênio, enquanto a testosterona diminui de forma discreta e gradual ao longo da vida.
Efeitos colaterais
Os níveis de testosterona nas mulheres são naturalmente muito mais baixos do que nos homens. Quando usada sem necessidade ou em doses elevadas, os riscos aumentam: crescimento de pelos, acne severa, queda de cabelo, alteração irreversível da voz, mudanças no clitóris, além de maior chance de AVC, trombose, câncer de mama e infertilidade.
Outro ponto de preocupação é a forma de aplicação. A testosterona transdérmica, usada em implantes ou géis, não é regulamentada para uso feminino no Brasil. Assim, não há garantia de eficácia e segurança a longo prazo.
Acompanhamento e ética médica
A reposição hormonal, quando necessária, deve ser ética, criteriosa e de curta duração. A ginecologista Patrícia C. Nogueira explica que o tratamento deve durar, em média, seis meses, com reavaliações periódicas. “A paciente precisa ser reavaliada em 45 dias ou, no máximo, em até três meses. Não pode desaparecer do consultório”, alerta.
Ela reforça que muitas vezes a falta de desejo sexual pode estar ligada a fatores externos, como sobrecarga de trabalho, rotina doméstica, casamentos longos, pouco estímulo erótico, além de distúrbios do sono, déficit de vitaminas ou alterações hormonais.
Causas comuns da queda do desejo sexual feminino
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Deficiência de estrogênio, especialmente na menopausa
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Transtornos emocionais, como ansiedade e depressão
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Uso de medicamentos que reduzem a libido
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Sobrepeso ou obesidade
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Problemas no relacionamento afetivo ou sexual
Riscos do uso inadequado da testosterona
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Crescimento de pelos no rosto e no corpo
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Acne severa
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Queda de cabelo
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Alterações de colesterol e risco cardiovascular
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Danos hepáticos
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Engrossamento irreversível da voz
Informações do A Tarde