Fones com cancelamento ativo de ruído (ANC) conquistaram milhões de adeptos pelo conforto que oferecem em ambientes barulhentos. No entanto, pesquisas no Reino Unido acendem um alerta: o uso prolongado dessa tecnologia pode estar relacionado ao aumento de casos de Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC), condição que afeta a capacidade do cérebro de interpretar sons em ambientes com muitos estímulos sonoros.
“Nas aulas, tudo parecia um amontoado de sons sem sentido”, relata Sophie, jovem britânica entrevistada pela BBC. Seu depoimento reflete uma preocupação crescente entre especialistas: ao bloquear constantemente os sons do ambiente, o cérebro pode perder a habilidade de filtrar e organizar informações auditivas — habilidade crucial para a comunicação e o convívio social.
Claire Benton, vice-presidente da Academia Britânica de Audiologia, explica que o sistema auditivo precisa de estímulos variados para se desenvolver plenamente. “As habilidades de processamento sonoro se consolidam no fim da adolescência. O uso excessivo de fones com ANC nessa fase pode prejudicar esse desenvolvimento”, alerta.
De acordo com o portal Central da Saúde, pessoas com DPAC geralmente ouvem normalmente, mas enfrentam dificuldades para compreender falas em locais ruidosos — o que afeta o desempenho acadêmico, profissional e social. Nas grandes cidades, onde os fones com cancelamento de ruído são mais utilizados, o distúrbio tem se tornado mais comum entre jovens adultos.
Wayne Wilson, professor da Universidade de Queensland, destaca que ainda são necessárias mais pesquisas para estabelecer uma relação direta entre o uso de ANC e o aumento do DPAC. “O diabo mora nos detalhes”, afirma. Ele ressalta que fatores como frequência de uso, tipo de ruído bloqueado e idade do usuário precisam ser analisados com cautela.
Enquanto a ciência busca respostas mais conclusivas, o consenso entre os especialistas é claro: o uso moderado é a melhor estratégia. Alternar períodos com e sem cancelamento de ruído, fazer pausas regulares e utilizar a tecnologia apenas quando necessário são atitudes simples que podem proteger a saúde auditiva a longo prazo.
Informações do Correio*