No coração da Mata Atlântica, a comunidade quilombola de Cordoaria, em Abrantes, Camaçari (BA), vive um novo momento de reconexão com a terra, saberes ancestrais e práticas sustentáveis. Com o lançamento do Projeto Quintais Agroflorestais da Cordoaria, a agricultura familiar, o meio ambiente e a valorização cultural ganham força e protagonismo na região.
A iniciativa tem como objetivo fortalecer os sistemas agroflorestais (SAFs) por meio da criação de quintais produtivos, unindo produção agrícola, conservação ambiental e geração de renda. O projeto é resultado da articulação entre as Beijuzeiras de Cordoaria, a OSCIP Rio Limpo, o Instituto Agente Toca e a Área de Proteção Ambiental Joanes Ipitanga (APA Joanes Ipitanga).
No dia 19 de agosto, terça-feira, o Instituto Viva a Vida foi palco de um encontro transformador. Agricultores e agricultoras, jovens, parceiros e lideranças comunitárias se reuniram para participar de uma capacitação em agroecologia e SAFs, com foco na integração entre o cultivo agrícola e os benefícios das florestas.
A atividade, conduzida pelas Beijuzeiras e pela OSCIP Rio Limpo, promoveu uma rica troca de saberes, aliando o conhecimento tradicional das famílias quilombolas às práticas agroecológicas e regenerativas. Os participantes aprenderam sobre a importância da biodiversidade, os serviços ecossistêmicos das florestas, o manejo sustentável do solo e o papel fundamental da mulher na agricultura comunitária.
Além de palestras e rodas de conversa, o evento marcou o início da implementação de SAFs em uma área de 2.500 m², trazendo práticas que respeitam os ciclos da natureza e valorizam a cultura alimentar local, com cultivos como banana, aipim, inhame e outras espécies nativas.
Agroflorestas: Produção que Cuida da Floresta e das Pessoas
O projeto nasce em um território rico e ameaçado: a Floresta Ombrófila Densa da Mata Atlântica, um dos biomas com maior biodiversidade do planeta — e também um dos mais desmatados. Cordoaria está situada na bacia do Rio Joanes, que abastece quase metade da Região Metropolitana de Salvador, mas sofre com poluição e degradação ambiental.
Nesse contexto, os sistemas agroflorestais surgem como uma resposta concreta e sustentável: restauram o solo, aumentam a oferta de alimentos saudáveis, geram renda e protegem os rios e as nascentes, como as do Joanes.
Mulheres à Frente: As Beijuzeiras e o Poder da Organização Comunitária
À frente dessa transformação estão as Beijuzeiras de Cordoaria, mulheres quilombolas que, há mais de cinco anos, mantêm viva a tradição do beneficiamento do aipim e da mandioca. Com coragem e união, elas se tornaram referência em produção agroecológica e organização social, mostrando que o desenvolvimento sustentável é possível quando começa na base.
“O que plantamos hoje é alimento, é futuro e é resistência”, destaca uma das integrantes do grupo durante a capacitação.
Por um Futuro Verde, Justo e Sustentável
O Projeto Quintais Agroflorestais da Cordoaria é muito mais do que uma ação agrícola. Ele representa um caminho de autonomia comunitária, recuperação ambiental e fortalecimento cultural. E é apenas o começo.
Por Milena Rocha