As taxas médias de juros seguem em patamar elevado no Brasil. A média geral, considerando operações de crédito livre e direcionado para famílias e empresas, está em 31,5% ao ano, com pouca variação recente. Em 12 meses, o aumento acumulado foi de 3,6 pontos percentuais, de acordo com dados do Banco Central.
A elevação acompanha o movimento da taxa Selic, fixada em 15% ao ano. Essa taxa básica da economia é usada como ferramenta para conter a inflação: juros mais altos desestimulam o consumo e tendem a reduzir os preços, ao encarecer o crédito e estimular a poupança.
O spread bancário — diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e o valor cobrado dos clientes — também se mantém elevado, em 20,4 pontos percentuais, com alta de 1,8 p.p. no acumulado de 12 meses.
Crédito para famílias: juros chegam a 441% ao ano
No crédito livre para pessoas físicas, a taxa média está em 58,3% ao ano. Modalidades como o cheque especial (137,5%) e o crédito pessoal não consignado (108,6%) se destacam pelos altos encargos. No cartão de crédito rotativo, a taxa alcança impressionantes 441,4% ao ano — uma das mais caras do mercado — mesmo após uma queda recente.
Essa modalidade é acionada quando o consumidor não paga o valor total da fatura e entra automaticamente em um financiamento, sujeito a juros altos. Após 30 dias, as instituições costumam parcelar o saldo devedor, com taxas que hoje chegam a 182,5% ao ano.
Já para empresas, o crédito livre tem juros médios de 24,3% ao ano, com leve alta no período.
Crédito direcionado: regras do governo, juros menores
Diferente do crédito livre, o crédito direcionado obedece a normas do governo e é voltado para setores como habitação, agricultura e infraestrutura. As taxas são menores: 11,1% ao ano para pessoas físicas e 14,1% para empresas.
Concessões e saldo de crédito: expansão com sinais de desaceleração
As concessões de crédito no país somaram R$ 636,9 bilhões no último mês analisado. Houve queda nas operações com empresas (-7,5%) e leve alta com as famílias (+1,4%). Em 12 meses, o crescimento nominal das concessões foi de 13,9%.
O estoque total de crédito do sistema bancário nacional atingiu R$ 6,685 trilhões, com expansão de 0,5%. No entanto, o ritmo de crescimento mostra sinais de desaceleração: a alta em 12 meses foi de 10,7%, abaixo dos 11,8% registrados anteriormente.
O chamado “crédito ampliado” — que inclui operações bancárias, títulos públicos e privados, além de dívida externa — chegou a R$ 19,3 trilhões, com crescimento de 10,6% em um ano. Os títulos de dívida securitizada e privados puxaram esse aumento.
Endividamento e inadimplência: cenário exige atenção
A inadimplência no sistema bancário, medida por atrasos superiores a 90 dias, permanece estável em 3,6%. Entre as famílias, está em 4,3%, e entre as empresas, em 2,4%.
O endividamento das famílias — que representa a relação entre dívida e renda anual — chegou a 49%. Quando se exclui o financiamento imobiliário, a taxa cai para 30,7%. Já o comprometimento da renda mensal com o pagamento das dívidas atingiu 27,8%.
Esses números refletem um cenário de crédito caro e orçamento pressionado, especialmente para as famílias, que enfrentam juros elevados e renda comprometida com dívidas. Apesar da estabilidade recente, o patamar ainda é preocupante para o consumo, o investimento e a recuperação econômica.