O “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra parceiros comerciais é uma política ineficaz até mesmo para os americanos, de acordo com o professor e economista da Universidade de Harvard Dani Rodrik. Segundo ele, as sucessivas taxações sobre produtos que chegam aos Estados Unidos, uma das principais políticas externas de Trump, não servem para incentivar a economia americana nem para garantir melhores empregos.
“Há uma boa chance de que, no final das contas, isso seja autodestrutivo”, afirma Rodrik.
O economista, referência mundial em desenvolvimento, fez duras críticas à política adotada por Trump. Segundo ele, os objetivos alegados pelo presidente, como a reconstrução da indústria americana e o fortalecimento da classe média, não serão alcançados com tarifas de importação.
“O problema com a América de Trump não é o nacionalismo econômico, é que Trump não está adotando políticas que sejam nacionalistas o suficiente. Na verdade, não apenas não está claro de quem é o interesse, mas posso dizer que não está servindo ao interesse econômico americano”, destacou.
Os produtos do Brasil estão entre os alvos de Trump, que já impôs tarifas de 50% sobre parte das exportações brasileiras para o mercado norte-americano. Segundo o governo brasileiro, a medida afeta cerca de 36% das mercadorias enviadas, o que representa 4% das exportações nacionais.
Rodrik explica que, ao taxar os produtos, pode-se até aumentar a arrecadação ou mesmo o lucro das empresas americanas, mas isso não necessariamente se reverte em empregos de qualidade. “As tarifas apenas aumentam a lucratividade de certos segmentos da manufatura. Agora, quando algumas empresas se tornam mais lucrativas, elas necessariamente inovam mais? Elas investem mais em seus trabalhadores? Elas contratam mais? Todas essas coisas boas não estão diretamente ligadas ao fato de estarem ganhando mais dinheiro, porque os lucros podem ser revertidos apenas para gerentes ou acionistas”, afirma.
Para ele, tarifas devem ser temporárias e acompanhadas de políticas internas que realmente estimulem a economia. “As tarifas são um escudo temporário, mas não são o principal instrumento para atingir esses objetivos, porque, para isso, não são muito eficazes”, argumenta.
Como exemplo, Rodrik cita a China, que adotou políticas nacionais planejadas em favor do crescimento econômico.
Trump também foi criticado por Alex Soros, presidente do Conselho da Open Society. Ele mencionou o fechamento da Usaid, agência de ajuda externa dos EUA, que resultou em cortes em ações humanitárias. “Agora se sabe que pessoas morreram ao redor do mundo por conta desses cortes. Falando como um americano, isso não é um interesse americano”, disse.
Na mesma ocasião, a Open Society anunciou que apoiará iniciativas na América Latina voltadas para populações historicamente marginalizadas, com foco em povos indígenas, comunidades afrodescendentes e mulheres. A estratégia terá como prioridade Brasil, Colômbia e México, com investimentos de longo prazo em organizações da sociedade civil e parcerias com governos.
Segundo Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES, cortes feitos pelo governo Trump impactam principalmente países pobres. “Nós não temos como enfrentar as desigualdades no mundo de forma isolada. É fundamental que os atores comprometidos com a democracia não se fechem apenas na agenda econômica, mas olhem para o que está realmente em risco”, afirmou.
Informações da Agência Brasil