Segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (ABRINQ), a indústria destes itens apresentou um crescimento histórico no Brasil – um aumento de 36% em relação às vendas, se analisados os últimos quatro anos. Só em 2024, a Associação divulgou um relatório anual de faturamento acima de 10 bilhões de reais. Com um mercado sólido na economia brasileira, estima-se que cerca de sete mil novas vagas de emprego sejam preenchidas neste setor, em 2025. Este foi o panorama que optei por destacar logo no início e, que, merece bastante atenção: os números crescentes para a economia. É, justamente, aí que mora o grande perigo! Para entender melhor sobre esse tema, precisamos analisar que existe um determinado conflito de interesses.
Como nem tudo são flores, embora esses números representem um crescimento positivo para a economia, a indústria dos brinquedos também desperta nos psicólogos e sociólogos uma preocupação proporcional a este crescimento: o consumismo infantil e as repercussões para a saúde mental dos nossos jovens. As crianças são influenciadas por publicidades em plataformas digitais, shoppings e televisão. O que não é o ideal, já que até os sete anos de idade, essas pessoas ainda estão em fase de desenvolvimento cognitivo e não possuem capacidade interpretativa suficiente para ponderar, comparar ou escolher o que é melhor para elas. Isso torna essa população vulnerável à linguagem persuasiva, dominante no marketing, facilitando o aprendizado de hábitos de consumo extremamente prejudiciais.
Os esforços da indústria, para proteger nossas crianças dessas influências, ainda são considerados mínimos diante da seriedade e do impacto psicológico negativo deste assunto. A família, a escola e a sociedade em geral precisam se unir nessa missão – já que o consumismo infantil está diretamente ligado ao aumento da ansiedade, depressão e outros transtornos psicológicos que representam um risco grave para esses indivíduos em formação.
É possível identificar o consumismo na infância, se atentando aos detalhes. As mudanças de humor, neste período, podem ser a principal porta de entrada para analisar que algo pode estar errado. Irritabilidade excessiva e desproporcional diante de uma negativa de compra, normalmente acompanhada de ataques de fúria, são provas disso.
Pode-se perceber ainda uma ansiedade por obter apenas produtos de determinadas marcas ou associados aos conteúdos consumidos de forma online. A satisfação momentânea que, frequentemente se restringe ao ato da compra, é abandonada rapidamente quando o produto é substituído por outro. Há ainda comparações e sentimentos de inferiorização, quando não se tem acesso a determinado brinquedo.
Outros sintomas presentes são: intolerância à frustração; busca por aceitação e aprovação social, através do consumo; além da escolha de vínculos de amizade com comportamento consumista similar; e a preferência por ambientes de lazer e sociabilidade que estimulam o consumismo, tais como: shoppings e lojas.
Solução?
A família também é um produto do meio. Participa ativamente da sociedade e é influenciada por ela. É importante que o ambiente familiar pratique a autocrítica, em relação a esses assuntos, pois em muitos casos o comportamento consumista está sendo estimulado dentro de casa e apenas reforçado fora dela.
É necessário compreender profundamente os males causados pelo consumismo na infância. Não podemos, como sociedade, sacrificar a saúde das nossas crianças em troca do crescimento econômico. O consumismo ocupa um espaço que outrora era preenchido com experiências significativas, fortalecimento de laços familiares e contato com atividades simples. Tirar isso das nossas crianças, pode causar danos que o dinheiro nunca poderá pagar. É necessário entender os limites do capitalismo e redescobrir a beleza de ser criança!
Abaixo, pontuo algumas dicas práticas que podem ser úteis para famílias que gostariam de estimular um ambiente de consumo mais sadio:
- Invista em atividades que proporcionem envolvimento e interação humana, como a prática de esportes e brincadeiras que envolvam superação e desenvolvimento pessoal;
- Escolha locais de lazer em que o consumo tenha menor influência. Que estimulem o contato social e o contato com a natureza;
- Monitore e reduza o consumo de telas dentro de casa. Sempre que possível, estimule o consumo de conteúdos educacionais, com baixa estimulação sensorial (menos som, luz, cor ou propaganda);
- Monitore ou reduza o acesso aos jogos online que trazem a sensação de recompensa imediata, afastando a criança das experiências de frustração;
- Invista em educação financeira para que a criança aprenda o valor do fruto do trabalho, e não apenas tenha acesso à recompensa;
- Estimule a colaboração com atividades domésticas, respeitando a idade e as habilidades da criança;
- Incentive a busca pela curiosidade e autoconhecimento na infância. Isso constrói uma autoestima mais sólida que ajuda a desenvolver imunidade em relação às influências negativas do consumismo.
Por João Maurício Báfica, psicólogo clínico e criador da Oficina de Controle da Ansiedade em Salvador