O sistema elétrico brasileiro corre o risco de não conseguir atender plenamente demandas de energia nos horários de pico, especialmente no fim do dia, nos próximos cinco anos. O alerta foi feito pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que destaca a necessidade urgente de novos leilões para garantir a reserva de potência elétrica.
De acordo com o Plano da Operação Energética (PEN), o crescimento da geração de energia no país tem sido puxado por fontes renováveis intermitentes, como a solar e a eólica. No entanto, essas fontes produzem menos energia justamente no momento de maior consumo: à noite. Isso pressiona a necessidade de acionamento de usinas térmicas e a adoção de alternativas, como o possível retorno do horário de verão — proposta que será avaliada conforme as projeções futuras de demanda.
A expectativa do ONS é que até 2029 a capacidade instalada no país aumente em 36 gigawatts, alcançando 268 GW. A mini e microgeração distribuída solar (MMGD), somada à geração solar centralizada, deve representar cerca de 33% da matriz elétrica até lá, tornando a energia solar a segunda maior fonte do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Com essa mudança no perfil da matriz, cresce também a complexidade da operação do sistema. A necessidade de usinas com alta capacidade de resposta — principalmente hidrelétricas e térmicas flexíveis — será maior para lidar com as variações diárias da oferta e da demanda de energia.
Apesar da necessidade de geração térmica, o ONS não recomenda o uso de usinas com baixa flexibilidade ou que demoram a entrar em operação. O foco deve ser em soluções ágeis e adaptáveis, que respondam às rápidas oscilações do sistema.
A realização de leilões específicos para contratar potência elétrica foi apontada como essencial. Um certame estava previsto anteriormente, mas acabou cancelado após a revogação das regras pelo Ministério de Minas e Energia. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que, com nova regulamentação, poderá coordenar um novo leilão usando as contribuições já recebidas em consultas públicas anteriores.
O relatório também aponta riscos estruturais a partir de 2026, com possíveis falhas no fornecimento de potência entre os meses de agosto e dezembro de diversos anos até 2029. O documento reforça a urgência da realização de leilões anuais para evitar colapsos no sistema.
Outro desafio mencionado é a inclusão de novas cargas especiais no sistema, como plantas de datacenters e projetos de hidrogênio verde. Essas instalações exigem fornecimento contínuo e robusto de energia, com baixa margem de flexibilidade, o que pressiona ainda mais o sistema durante os períodos críticos, como o início da noite.
O ONS conclui que, sem planejamento estruturado e medidas concretas — como o reforço da reserva de potência e a modernização da matriz — o Brasil poderá enfrentar dificuldades crescentes para garantir o fornecimento de energia nos próximos anos.
Informações da Agência Brasil