Apesar da política monetária restritiva e da taxa básica de juros elevada, a economia brasileira continua aquecida. O mercado de trabalho segue forte e ainda não apresenta sinais significativos de desaceleração, como apontam economistas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE.
A pesquisa mostra que a taxa de desocupação atingiu o menor nível desde o início da série histórica, marcando 5,8%. O país também bateu recordes no número de pessoas ocupadas (102,3 milhões), no total de trabalhadores com carteira assinada (39 milhões) e no rendimento médio mensal, que alcançou R$ 3.477.
Resultado surpreendente
Para o economista Gilberto Braga, professor do Ibmec, a taxa de desemprego abaixo dos 6% foi uma surpresa positiva, especialmente diante do cenário de juros elevados. “O resultado é surpreendente não apenas pela queda do desemprego, mas pelo aumento da formalização e da renda média dos trabalhadores”, avalia.
A informalidade também recuou, atingindo 37,8% da população ocupada, a menor taxa desde o segundo trimestre de 2020.
Pressão dos juros
A taxa Selic, atualmente em 15% ao ano, é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para conter a inflação, que continua acima do limite máximo da meta. O aumento dos juros tende a encarecer o crédito, reduzir investimentos e, consequentemente, frear o crescimento da economia.
No entanto, o mercado de trabalho tem mostrado resiliência. Segundo o economista Rodolpho Tobler, da FGV, “há uma certa contradição: mesmo com um ambiente macroeconômico desafiador, o nível de emprego segue elevado, acompanhando o ritmo forte da atividade econômica”.
Fatores que sustentam o emprego
Especialistas apontam que alguns fatores têm amortecido os impactos negativos da alta dos juros sobre o mercado de trabalho. Entre eles está a ampliação do Bolsa Família, que passou a garantir pagamentos mensais de R$ 600, estimulando o consumo das famílias — um dos principais motores da economia.
Outro fator relevante é o crescimento do trabalho por conta própria, que já reúne 25,7 milhões de brasileiros, boa parte em situação informal. De acordo com o IBGE, entre 75% e 80% desses trabalhadores não possuem CNPJ. Essa mudança estrutural torna o mercado de trabalho mais sensível ao consumo das famílias do que aos investimentos das empresas.
Tendência de desaceleração
Apesar do cenário atual positivo, os economistas projetam uma possível desaceleração no mercado de trabalho nos próximos meses. Tobler alerta que, com sinais de arrefecimento na atividade econômica, é provável que o ritmo de geração de empregos diminua gradualmente.
Sandro Sacchet, do Ipea, prevê uma leve alta no desemprego a curto prazo, com recuperação no fim do ano impulsionada pelas contratações temporárias de fim de ano. Ainda assim, a taxa deve seguir em níveis mais baixos que os registrados no ano anterior.
Informações da Agência Brasil