Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil
Desde 2003, Fernando Henrique dos Santos, 42 anos, sofre com fortes dores na coluna. Em 2018, foi diagnosticado com artrite reumatoide e afastado do trabalho. Mais recentemente, seu diagnóstico mudou para espondilite anquilosante, uma doença inflamatória que atinge principalmente a coluna. Para controlar a enfermidade, Santos depende do infliximabe, um medicamento de alto custo fornecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas que precisa ser aplicado a cada oito semanas por infusão endovenosa.
Morador de Guarulhos (SP), ele antes realizava o tratamento em Mogi das Cruzes por meio de um convênio entre o governo estadual e o laboratório fabricante. Com o fim do contrato, passou a recorrer ao convênio médico em uma clínica na zona leste da capital. “A maior dificuldade é o tratamento em si: pelo SUS eu não consigo”, afirmou.
A situação de Santos reflete um problema estrutural. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a ausência de centros de infusão na rede pública coloca em risco o tratamento de pacientes com doenças crônicas autoimunes e raras. Embora os medicamentos sejam fornecidos pelo SUS, não existem protocolos que organizem a rede de cuidados para a aplicação segura, que exige locais preparados, cadeia de frio para armazenamento e equipe especializada para evitar reações adversas.
“Há pessoas com o remédio em mãos e sem lugar para aplicar. Isso não tem cabimento”, disse o reumatologista Vander Fernandes, coordenador da Comissão de Centros de Terapia Assistida da SBR, durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado em setembro em Salvador. Segundo ele, a luta da entidade é pela criação de regras nacionais, financiamento e credenciamento de serviços.
Atualmente, existem apenas 61 centros de terapia assistida no país, a maioria privada e concentrada na Região Sudeste. Desses, só 11 têm contratos com o SUS. A estimativa é que cerca de 20 mil pacientes façam uso de medicamentos imunobiológicos fornecidos pelo sistema público e que necessitam de infusão endovenosa.
Uma pesquisa realizada em 2023 pela Biored Brasil, rede de associações de pacientes, mostrou que 10% dos entrevistados estavam sem acesso à aplicação e 46% afirmavam não ter um centro próximo de casa. Mais da metade (55%) disse pagar entre R$ 150 e R$ 200 por sessão, um custo que impacta fortemente o orçamento familiar.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que estuda a criação de pontos que possam se tornar centros de terapia assistida. O processo, segundo a pasta, está em fase de análise técnica.
Informações: Agência Brasil