Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) trouxe à tona um alerta importante sobre os óculos de sol comercializados no Brasil: a maioria dos modelos disponíveis no mercado não oferece proteção total contra a radiação ultravioleta (UV), especialmente a chamada radiação UV difusa — que é refletida por superfícies como paredes, chão e areia.
Mesmo com lentes escuras e proteção contra raios UV, os óculos permitem a entrada de radiação pelos vãos laterais entre o rosto e a armação. Essa radiação pode refletir na parte interna das lentes e atingir diretamente os olhos. O problema, segundo o estudo, está no design das armações, que raramente são projetadas para bloquear essa exposição indireta.
A física Liliane Ventura, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), que coordena o grupo de pesquisa há décadas, explica:
“As armações têm um papel fundamental na proteção dos olhos contra a radiação UV, mas as normas atuais avaliam apenas as lentes. Isso é uma falha grave.”
Resultados do estudo
A pesquisa analisou 32 modelos de óculos de sol com um protótipo que simula os olhos humanos e utiliza sensores de radiação. Os resultados mostraram grande variação de proteção de acordo com o formato da armação:
Óculos com design estilo máscara, muito usados por atletas, bloquearam até 96% da radiação.
Modelos com lentes redondas e armações mais abertas ofereceram proteção de apenas 81%.
Apesar de a maioria das lentes testadas cumprir o padrão mínimo exigido no Brasil — de 380 nanômetros (nm) — apenas uma delas superou esse limite. Especialistas apontam que essa exigência pode estar defasada. Em países como a Austrália, por exemplo, o padrão mínimo é de 400 nm, o que garante uma proteção mais eficaz em ambientes de alta incidência solar.
Normas que deixam a desejar
Até 2013, o Brasil também exigia proteção até 400 nm. No entanto, esse valor foi reduzido para se adequar às normas internacionais da ISO. Desde então, não houve revisão na legislação, apesar das evidências de que o padrão atual não protege completamente os olhos da radiação lateral.
“As normas precisam considerar o conjunto da armação e não apenas as lentes”, reforça Ventura.
Como se proteger
Para garantir maior segurança, especialistas recomendam:
Comprar óculos de sol apenas em óticas e lojas especializadas, que vendem produtos certificados.
Evitar óculos vendidos por ambulantes ou lojas não credenciadas, que frequentemente não oferecem proteção UV adequada — e, em alguns casos, podem até agravar os efeitos da radiação.
Dar preferência a modelos com armações mais fechadas, que minimizam a entrada lateral da radiação.
A mensagem é clara: nem todo óculos escuro protege seus olhos. A escolha do modelo certo, aliado à procedência confiável, faz toda a diferença para a sua saúde ocular.
Informações do Correio*