Um levantamento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) revela profundas desigualdades raciais no acesso e permanência de pessoas negras na pós-graduação stricto sensu no Brasil. Apesar de pretos e pardos representarem a maioria da população brasileira, ainda são minoria entre mestres e doutores formados no país.
Dados consolidados ao longo de 25 anos apontam que pessoas brancas obtiveram quase metade dos títulos de mestrado (49,5%) e mais da metade dos títulos de doutorado (57,8%) no período analisado. Em contraste, apenas 4,1% dos mestres e 3,4% dos doutores se declararam pretos. Entre os pardos, os percentuais foram de 16,7% e 14,9%, respectivamente. A presença indígena também é ínfima: apenas 0,23% dos títulos de mestrado e 0,3% dos de doutorado.
O estudo também dimensiona a desigualdade ao considerar o número de titulados por 100 mil habitantes. Enquanto havia 38,9 mestres brancos por 100 mil habitantes, entre pretos esse número cai para 21,4; entre pardos, 16,1; e entre indígenas, 16. A discrepância se acentua ainda mais no doutorado, com 14,5 doutores brancos por 100 mil habitantes, contra cerca de 5 entre pretos, pardos e indígenas.
As disparidades seguem após a titulação, refletindo-se nas condições de inserção no mercado de trabalho. Mesmo com a mesma formação, profissionais brancos concentram a maior parte dos vínculos empregatícios e recebem salários superiores. Segundo o CGEE, mestres pretos ganham, em média, 13,6% a menos que seus pares brancos. Entre os doutores, a diferença salarial é de 6,4%.
“Quando se analisa a remuneração, observa-se uma desvantagem significativa, com salários inferiores aos da população branca, tomada como referência por apresentar as maiores remunerações entre mestres e doutores”, destacou Sofia Daher, assessora técnica do CGEE e coordenadora do estudo.
A pesquisa foi apresentada durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), evento que reúne cientistas, pesquisadores e educadores de todo o país para discutir os rumos da ciência e da educação no Brasil.
Informações da Agência Brasil