O presidente da China, Xi Jinping, propôs a criação da Iniciativa de Governança Global (IGG), possível embrião de uma nova ordem mundial. A proposta foi divulgada durante encontro com a presença de líderes de países não ocidentais, incluindo o russo Vladimir Putin e o indiano Narendra Modi.
No discurso oficial da reunião, Xi Jinping destacou que a governança global estaria ameaçada pela “mentalidade da Guerra Fria, o hegemonismo e o protecionismo” que continuariam a “assombrar o mundo” após o fim da 2ª Guerra Mundial e da criação das Nações Unidas (ONU).
“O mundo encontra-se num novo período de turbulência e transformação. A governança global chegou a uma nova encruzilhada. A história nos diz que, em tempos difíceis, devemos manter nosso compromisso original com a coexistência pacífica, fortalecer nossa confiança na cooperação vantajosa para todos”, disse o líder chinês.
A proposta de Xi foi apresentada na Organização para Cooperação de Xangai (OCX), fórum fundado em 2001, que reúne países membros, observadores e parceiros.
O evento ocorre em meio a disputas comerciais e políticas globais, com pressões dos Estados Unidos sobre a Índia em relação ao comércio de óleo russo — medida que Nova Délhi se recusa a aceitar. Durante a reunião, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi apareceu ao lado de Putin e Xi, gesto simbólico em um contexto de tensões históricas entre Índia e China.
Cinco princípios
No encontro, Xi Jinping propôs uma nova governança global baseada em cinco princípios:
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igualdade soberana entre estados;
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respeito ao direito internacional;
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prática do multilateralismo;
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abordagem centrada nas pessoas;
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adoção de medidas concretas.
“Devemos defender que todos os países, independentemente de tamanho, força e riqueza, sejam participantes, tomadores de decisão e beneficiários iguais na governança global. Devemos promover maior democracia nas relações internacionais e aumentar a representação e a voz dos países em desenvolvimento”, justificou Xi.
Analistas interpretam a proposta como uma resposta às políticas unilaterais norte-americanas. Para Xi, “devemos defender a visão de uma governança global com ampla consulta e contribuição conjunta para benefício compartilhado, fortalecer a solidariedade e nos opor ao unilateralismo”.
Xi também defendeu maior integração econômica no âmbito da Iniciativa do Cinturão e Rota da Seda, apontada como alvo de críticas dos EUA. O líder chinês anunciou ainda apoio financeiro aos membros da OCX, além de iniciativas em áreas como inteligência artificial, energia verde e combate ao narcotráfico.
Rússia
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que uma dúzia de Estados deseja integrar a OCX, o que demonstraria o interesse global no “diálogo aberto e transparente” da organização. Ele também declarou apoio à proposta chinesa de nova governança global.
“A Rússia apoia a iniciativa de Xi Jinping e está interessada em iniciar discussões específicas sobre as propostas apresentadas pela China. Acredito que é a OCX que poderia assumir o papel de liderança nos esforços que visam moldar um sistema de governança global mais justo”, disse Putin.
Índia
Narendra Modi agradeceu à China pela organização do encontro e destacou a “excelente” reunião com Putin. Segundo ele, foram discutidas formas de aprofundar a cooperação bilateral em comércio, fertilizantes, espaço, segurança e cultura, além de processos regionais e globais.
Índia e China
A China e a Índia tentam melhorar sua relação, historicamente marcada por disputas fronteiriças e regionais. O encontro bilateral entre Modi e Xi foi apontado como parte de um processo de reaproximação, que inclui retomada de voos diretos e medidas de estabilidade em áreas de fronteira.
“O relacionamento está de volta a uma trajetória positiva. Esse progresso beneficia não apenas os povos da Índia e da China, mas também o mundo inteiro. Índia e China são parceiras, não rivais. Nosso consenso supera em muito nossa discordância”, informou a diplomacia chinesa.
Informações da Agência Brasil