O Instituto Butantan recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os testes em humanos da primeira vacina brasileira contra a gripe aviária do subtipo H5N8. A pesquisa ainda aguarda o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para dar início à fase clínica.
Desenvolvida com tecnologia nacional, a vacina será testada inicialmente em adultos entre 18 e 59 anos e, posteriormente, em pessoas com mais de 60 anos. O estudo será realizado em cinco centros de pesquisa nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, com a participação de 700 voluntários.
A vacina — uma influenza monovalente A (H5N8) de vírus inativado — demonstrou segurança e eficácia imunológica nos testes pré-clínicos com camundongos e coelhos. O objetivo do Butantan é concluir o acompanhamento dos voluntários até 2026 e, com base nos dados, solicitar o registro definitivo à Anvisa.
Prevenção contra uma possível pandemia
A comunidade científica tem acompanhado com atenção a evolução do vírus H5. Desde 1996, esse subtipo da influenza aviária já mostrou capacidade de infectar humanos em casos isolados. Mais recentemente, a adaptação do vírus em mamíferos acendeu o alerta sobre o risco de uma nova pandemia.
“O vírus está cada vez mais próximo de conseguir transmissibilidade entre humanos. Isso exige uma resposta antecipada da ciência e da saúde pública”, afirma o diretor do Butantan, Esper Kallás. Segundo ele, a preparação visa garantir que, caso o vírus venha a causar surtos ou epidemias, o país já tenha uma vacina pronta para uso emergencial.
A diretora médica do instituto, Fernanda Boulos, destaca que o risco maior é a mutação que permita a transmissão direta entre pessoas. “Se isso acontecer, a gripe aviária pode se transformar em uma epidemia. Estamos nos adiantando a essa possibilidade, com uma vacina segura e que não contém vírus ativo”, explica.
Letalidade e impactos globais
Especialistas internacionais apontam o alto potencial de letalidade dos subtipos H5N1, H5N8 e H7N9. Entre 2003 e 2024, foram registrados 954 casos humanos em 24 países, com 464 mortes — uma taxa de letalidade de 48,6%, segundo a Anvisa.
Além do risco à saúde humana, o vírus tem causado impacto massivo na fauna: 300 milhões de aves foram mortas por surtos de gripe aviária nos últimos anos, atingindo mais de 300 espécies silvestres em 79 países.
No Brasil, até o momento, não houve confirmação de casos em humanos. A infecção ocorre principalmente por contato direto com aves doentes ou ambientes contaminados. O consumo de carne e ovos cozidos não oferece risco.
Casos no Brasil e resposta do governo
O país já notificou casos de influenza aviária em aves silvestres e, mais recentemente, em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. Após 28 dias sem novos registros, o Brasil voltou a ser considerado livre da doença em granjas comerciais, segundo o Ministério da Agricultura.
Para responder rapidamente a possíveis surtos, o Ministério da Saúde lançou o Plano de Contingência Nacional para Influenza Aviária. A iniciativa inclui protocolos de vigilância, diagnóstico laboratorial e assistência à população.
Além disso, o Brasil mantém estoques do antiviral oseltamivir, usado no tratamento de diferentes tipos de influenza, e possui tecnologia para a produção de vacinas por meio do SUS.
Palavra de ordem: prevenção
“O desenvolvimento da vacina é um passo essencial para garantir que o país esteja preparado caso o vírus passe a circular entre humanos”, destaca Fernanda Boulos. A expectativa do Butantan é que, com os testes bem-sucedidos, o imunizante esteja pronto para produção em larga escala se houver necessidade.
Informações da Agência Brasil