Brasil retornou à lista dos 20 países com maior número de crianças não vacinadas no mundo, de acordo com novo levantamento divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Após ter deixado esse ranking anteriormente, o país volta a ocupar uma posição preocupante: está agora em 17º lugar entre as nações com mais crianças “zero dose”, ou seja, que não receberam nenhuma vacina. O número saltou de 103 mil, em 2023, para 229 mil em 2024.
O relatório considera principalmente a aplicação da DTP1, vacina que protege contra difteria, tétano e coqueluche. Esse imunizante é usado como indicador do acesso de crianças aos serviços de vacinação de rotina.
Segundo os dados mais recentes, 14,3 milhões de crianças em todo o mundo estão completamente desprotegidas contra doenças evitáveis por vacinas, enquanto outras 5,7 milhões receberam apenas parte das doses recomendadas.
Apesar de um progresso pontual na cobertura global, com aumento de cerca de 171 mil crianças vacinadas com ao menos uma dose em relação ao ano anterior, a meta estabelecida pela Agenda de Imunização 2030 ainda está longe de ser atingida. Em 2024, quase 20 milhões de crianças perderam pelo menos uma dose da vacina DTP — um aumento em relação aos níveis pré-pandemia.
A OMS alerta que mesmo pequenas quedas na cobertura vacinal podem favorecer o retorno de doenças já controladas, além de sobrecarregar sistemas de saúde.
“As vacinas salvam vidas (…). É encorajador ver um aumento contínuo no número de crianças vacinadas, embora ainda tenhamos muito trabalho a fazer. Cortes drásticos na ajuda, juntamente com a desinformação sobre a segurança das vacinas, ameaçam desfazer décadas de progresso”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Cenário mundial: cobertura parcial e desigual
De acordo com a OMS e o Unicef:
89% das crianças no mundo receberam ao menos uma dose da DTP;
85% completaram a série de três doses.
Embora esses números sinalizem esforços positivos, ainda há um descompasso em relação às metas globais.
No caso da vacina contra o HPV, por exemplo, a cobertura completa global passou de 21% para 28% entre as meninas. A adoção do esquema de dose única tem contribuído para essa melhora. Mesmo assim, cerca de 46,6 milhões de adolescentes permanecem sem proteção total contra o papilomavírus humano.
A cobertura da primeira dose da vacina contra o sarampo também apresenta recuperação lenta, subindo de 83% para 84%, mas ainda abaixo dos níveis anteriores à pandemia. A segunda dose alcançou 76%. A OMS já emitiu alertas sobre o crescimento de casos da doença em diferentes regiões do mundo.
Desafios e perspectivas
O Brasil enfrenta, além da baixa cobertura, dificuldades no fornecimento regular de vacinas. A falta de doses em municípios e a disseminação de desinformação sobre a eficácia e segurança dos imunizantes são obstáculos significativos para reverter esse cenário.
A ampliação das campanhas de vacinação, o fortalecimento do SUS e o combate à desinformação são apontados por especialistas como caminhos fundamentais para garantir a proteção de crianças e adolescentes contra doenças evitáveis.
Informações da Agência Brasil