O Brasil enfrenta um crescimento expressivo na ocorrência de desastres climáticos provocados por chuvas intensas, como enxurradas, inundações, temporais e deslizamentos de solo. Entre 2020 e 2023, foram registrados mais de 7.500 eventos desse tipo, um aumento de 223% em relação à década de 1990. A intensificação das chuvas e seus impactos são analisados no relatório Temporadas das Águas: O Desafio Crescente das Chuvas Extremas, elaborado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica e coordenado pelo Programa Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Segundo o pesquisador Ronaldo Christofoletti, coordenador do estudo, os dados de longo prazo mostram que as regiões Sudeste e Sul concentram a maior parte desses eventos, tendência já prevista por cientistas. O estudo também reforça projeções do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, que apontam para um aumento de até 30% nas chuvas nessas regiões até o final do século, enquanto Norte e Nordeste podem sofrer uma redução de até 40% na precipitação.
As consequências desses desastres vão muito além dos danos materiais. Afetam diretamente a saúde, o deslocamento de pessoas e a produção local, e geram impactos psicológicos duradouros, principalmente nas populações mais vulneráveis.
Dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) mostram que, entre 1991 e 2023, ocorreram mais de 26 mil desastres causados por chuvas intensas no país. Destes, 64% foram hidrológicos (como enxurradas e inundações), 31% meteorológicos (como temporais) e 5% geológicos (como deslizamentos de solo).
Até o momento, mais de 4.600 municípios — cerca de 83% das cidades brasileiras — já foram atingidos por desastres associados às chuvas. Na década de 1990, esse número era de apenas 27%. Essa evolução escancara a urgência de medidas estruturais e preventivas.
Para a especialista em soluções baseadas na natureza Juliana Baladelli Ribeiro, é fundamental que o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil implementem estratégias sustentáveis. Ela destaca tecnologias como jardins de chuva, parques urbanos e lagoas artificiais como alternativas que combinam drenagem eficiente, conforto térmico e espaços de lazer.
Juliana cita como exemplo o Parque Barigui, em Curitiba. Em dias de chuva intensa, o lago do parque se enche e a área alaga de forma controlada, sem causar danos estruturais. Em períodos secos, o espaço permanece como área verde de convivência e recreação.
O estudo também chama atenção para as conexões entre os diferentes biomas e a importância das regiões polares — especialmente a Antártica — para o clima no Brasil. O aumento da temperatura global, somado à mudança no comportamento das frentes frias, tem alterado profundamente o regime de chuvas em diversas regiões do país.
Essas transformações climáticas ampliam a vulnerabilidade de milhares de pessoas, provocam migrações forçadas e impõem novos desafios para o planejamento urbano e ambiental. Para os pesquisadores, enfrentar essa realidade exige políticas públicas eficazes, integração entre ciência e gestão e ações imediatas de adaptação às mudanças em curso.