O financiamento climático será um dos temas centrais das negociações entre países na COP30 – Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – em Belém. Países em desenvolvimento buscam captar pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano em recursos de nações mais ricas.
No caso do Brasil, o desafio é ainda maior no financiamento voltado para florestas. Segundo estudo do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio), apenas 2% dos recursos internacionais recebidos pelo país têm como destino esses ecossistemas.
Para Joana Chiavari, advogada especializada em Direito Ambiental e diretora do CPI/PUC-Rio, as florestas tropicais devem ser tratadas como parte estratégica da solução climática. Elas têm papel duplo: podem ser fontes de emissão de CO₂ quando degradadas ou, quando preservadas, funcionam como sumidouros de carbono, inclusive capturando CO₂ por meio da restauração florestal.
O setor que inclui florestas, agricultura, pesca e outros usos da terra ainda enfrenta resistência para atrair capital privado, devido ao retorno financeiro mais lento e à complexidade do uso da terra. Apesar disso, o financiamento global para soluções baseadas na natureza cresceu cerca de 286% entre 2018 e 2023, impulsionado principalmente por recursos públicos e concessões.
Entre 2021 e 2022, o Brasil recebeu, em média, R$ 26,6 bilhões por ano de financiamento climático internacional — aumento de 84% em relação ao período anterior e acima da média global, que cresceu 28%. A Europa Ocidental foi a principal origem desses recursos, com destaque para a França, seguida por China, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.
Instituições públicas responderam por 58% do total, enquanto o setor privado representou 42% — crescimento expressivo em relação a anos anteriores. Os instrumentos utilizados incluíram crédito comum, crédito concessional, participação acionária (equity) e doações.
O setor de energia concentrou a maior parte dos investimentos (53%), principalmente em projetos de geração solar e eólica. Florestas, agricultura, pesca e outros usos da terra receberam 11% do total, sendo que o subsetor florestal ficou com apenas R$ 623 milhões por ano, valor considerado muito abaixo do necessário, especialmente diante de sua relevância para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
A maior parte dos recursos (80%) foi destinada à mitigação climática, enquanto apenas 5% financiaram ações de adaptação — aquelas voltadas a reduzir a vulnerabilidade de sistemas naturais e humanos às mudanças do clima.
Segundo Chiavari, compreender o cenário atual do financiamento é essencial para medir o impacto de iniciativas brasileiras que buscam atrair capital estrangeiro para projetos sustentáveis e ampliar sua efetividade.
Informações da Agência Brasil