Imagine dona Zezilda, no alto dos seus 80 anos, correndo desesperada para fugir da fiscalização. “Lá vem o rapa!”, costumam gritar os ambulantes quando os agentes da prefeitura chegam. Dona Zezilda, com seu corpo frágil e tanta mercadoria para carregar, quase sempre tinha o material apreendido. Agora, enfim, pode ficar despreocupada.
Zezilda Floriano dos Santos está entre os 150 comerciantes agraciados com um espaço no novo camelódromo da Baixa dos Sapateiros, inaugurado ontem à tarde. Com investimento de R$ 420 mil, a estrutura de 600 metros quadrados tem cobertura total, iluminação, sanitários para pessoas com deficiência e até climatização por vaporizadores.
Com a estrutura, Zezilda, de uma vez por todas, dá adeus à vida sobre a calçada da Baixa dos Sapateiros, onde vende confecções há 48 anos. Na maior parte do tempo, montava barraca na esquina com a Rua 28 de Setembro. “Vivi tempos difíceis aqui. Enfrentei muita chuva, muita lama, muita mercadoria perdida correndo do rapa”, lembrou.
“As prefeituras foram jogando a gente para lá e para cá, mas eu nunca desisti”, garantiu a ambulante, que se especializou em roupas para idosos. “Tenho anáguas, vestidos, hobbies e até calçola”, propagandeou.
O camelódromo foi construído sob coordenação da Secretaria Municipal da Ordem Pública (Semop), que também fez o recadastramento e relocação dos ambulantes que atuavam no local e entorno. Todos receberão equipamentos padronizados.
“Nosso histórico é de tensão entre o poder público e o comércio informal. Essa relação sempre foi muito conflituosa. Encontramos uma fórmula de harmonizar os interesses. E essa fórmula tem um elemento fundamental: o diálogo”, afirmou a titular da Semop, Rosemma Maluf, que em três anos no cargo diz ter feito amizade com vários camelôs. 



