O PLP 18/2022, aprovado pela Câmara na terça (14), que limitou em 17% o ICMS sobre combustÃveis, não vai provocar a queda sustentável do preço na bomba. Engana-se quem pensa que o problema da gasolina de R$ 8,00 é culpa do imposto estadual. Desde novembro/2021 o ICMS é cobrado sobre a gasolina a R$ 6,50. Nem por isso, o produto deixou de subir mais R$ 1,50 em 7 meses.
O problema está no fato de o preço estar atrelado ao dólar e este viver um perÃodo de forte volatilidade. Quando o dólar sobe, há reajuste na mesma proporção. Mas o contrário não acontece. Quando a moeda norte-americana cai, não há redução do preço dos combustÃveis nas bombas, pois os revendedores, que atuam em forma de cartel, não repassam a queda.
Há ainda a polÃtica atual da Petrobras, de privilegiar grandes fundos de investimento em vez de a população e o paÃs com a construção de grande margem de lucro, o que impede que ganhos com a queda do dólar sejam repassados ao consumidor. No primeiro trimestre de 2022, a margem da estatal foi 31,6%, em média, seis vezes maior que as concorrentes. Como exemplo, a Chevron foi 11,5%, a Shell foi de 8,8%, a Exxon Mobil teve 6,6% e PetroChina lucrou 5,6%.
Não é à toa que os acionistas receberam R$ 101 bilhões em lucros e dividendos em 2021 e vão receber mais R$ 48,5 bilhões agora em junho/2022. Some-se a isso a privatização de refinarias, que tirou da estatal o poder de refino, entregando-o ao setor privado, como aconteceu com a Refinaria Landulfo Alves na Bahia, hoje nas mãos de um grupo estrangeiro.
“Bode na sala”
Na prática o PLP 18/2022 não resolve o problema. “Eleitoreiro, em um primeiro momento pode até forçar uma pequena queda no preço, mas não se sustenta no tempo porque não atinge a raiz da questão, que é o atrelamento ao dólar e a polÃtica de distribuição de lucros da Petrobras”, diz Marlucia Paixão, presidente da Fenafisco (Federação Nacional dos Trabalhadores do Fisco Estadual e Distrital) e diretora do Sindsefaz (Sindicato dos Servidores da Fazenda do Estado da Bahia).
Para Marlúcia, o projeto vai atender somente ao interesse do presidente da República de vender sua reeleição à sociedade brasileira. Nesta terça (14), ela participou de um debate na Câmara dos Deputados que discutiu os impactos sociais desta decisão. Participaram do seminário representantes de secretários de Educação, Saúde e Fazenda dos estados.
Segundo estudos da Fenafisco o PLP 18/2022 vai retirar R$ 90,5 bilhões dos estados, sendo R$ 11 bilhões do SUS, R$ 21 bilhões do Fundeb e R$ 5 bilhões do Fundo de Combate à Pobreza. Hoje, 25% dos recursos do ICMS vão para a educação, 15% vão para saúde, e outros 25% vão para os municÃpios.
Bolsonaro colocou um bode na sala. Mas ilude-se quem pensa que depois de um tempo o bode vai sair de lá. A partir de agora, além do problema original - combustÃvel atrelado ao dólar e polÃtica de lucros dos acionistas da Petrobras - que vai perdurar até o fim desse governo nefasto, agora há também o bode – ICMS limitado - que os governadores e prefeitos terão que se preocupar. O combustÃvel caro e, agora, a queda de receitas que atingirá estados e municÃpios, quem vai ter que suportar é a população.
Entenda como essa armadilha funciona e saiba também como se prevenir.
Especialista alerta para os cuidados dos pais no retorno das crianças ao ambiente escolar
Autora do livro "O Que é Meu é Seu - Como o Consumo Colaborativo Vai Mudar o Nosso Mundo", Rachel Botsman diz que estamos conectados para compartilhar. Em 15 minutos, ela tenta te convencer que o consumo colaborativo é o caminho.