Vazamentos, acidentes e emissões de gases do efeito estufa estão entre os impactos denunciados por moradores de municípios com intensa atividade petrolífera no Brasil. Além dos danos ambientais, especialistas criticam a pressa do país em abrir novas áreas para exploração, alertando que a demanda por petróleo tende a desacelerar nos próximos anos.
O pescador Humberto Sales Almeida, 42 anos, da comunidade Baía do Araçá, em São Sebastião (SP), relata mudanças profundas desde a chegada da indústria do petróleo. Filho e neto de pescadores, ele se lembra da pesca artesanal com o pai, usando redes ao sabor da maré. “Hoje temos porto de carga seca, petroleiro no meio da área de pesca. Não podemos mais acessar porque há tráfego de embarcações. Já houve acidentes graves. A Capitania dos Portos multa quem se aproxima dos navios, mas esquecem que essa área era nossa”, desabafa.
A cerca de 30 quilômetros dali, em Caraguatatuba, a pescadora Ladisla Crispim dos Santos relembra como sustentava seus filhos com a coleta de mariscos. “Tinha muito berbigão na areia, bastava cutucar com o calcanhar. Depois dos vazamentos, acabou tudo. Não tem mais nem pra contar história”, lamenta.
Em 2023, o Brasil registrou 731 acidentes marítimos envolvendo a indústria petrolífera, o maior número desde o início da série histórica da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em 2012. Os incidentes envolvem falhas em equipamentos, poços, acidentes de trabalho e até doenças, segundo a agência.
Na costa paulista, o primeiro grande vazamento foi em 2013, e a Transpetro chegou a ser condenada pelos impactos. No entanto, moradores afirmam que novos danos continuam ocorrendo. “Jogam dispersante do navio, que afunda e mata ovos de peixe nos recifes”, denuncia Humberto.
Esses impactos foram reunidos no Relatório Analítico de Perdas e Danos da Cadeia do Petróleo e Gás do Pré-Sal, elaborado pela Fiocruz e pelo Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT). O documento aponta prejuízos econômicos, sociais, culturais e emocionais.
Apesar das denúncias, a exploração segue em expansão. No dia 17 de junho, a ANP realizará o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão, leiloando 332 blocos de petróleo e gás, incluindo 47 na Bacia da Foz do Amazonas — região de alto potencial petrolífero, apontada como o novo pré-sal.
O Ibama aprovou ainda o plano de monitoramento de fauna da Petrobras para o bloco FZA-M-59, a 175 km da costa do Amapá, um dos requisitos para o licenciamento da perfuração em águas profundas.
Para Juliano Bueno de Araújo, engenheiro ambiental e diretor do Instituto Internacional Arayara, a iniciativa é precipitada: “Trata-se de uma aposta feita antes mesmo de saber se há viabilidade ambiental real”, apontou.
Informações da Agência Brasil